Foi no dia 15 ou 16 de dezembro de 2013 – não estou certo quanto à data exata – que começou a morrer o torcedor de futebol que nasceu em junho de 1985, num Portuguesa 2; Marília 0, pelo Paulistão daquele ano. Os sintomas, porém, começaram a aparecer pouco mais de uma semana antes.
9 de dezembro, segunda-feira. Festa do troféu Mesa Redonda, da TV Gazeta. Eu era assessor de imprensa da Lusa e estava com uma taça de vinho branco na mão quando a bomba estourou: o meia Héverton, na véspera, teria sido escalado irregularmente na última rodada do Brasileirão. É desnecessário falar dos acontecimentos que se seguiram até o primeiro “julgamento” na sede do infame stjd (espero que o editor mantenha em caixa baixa), na Rua da Ajuda, Rio de Janeiro.
Naquele maldito dezembro, dormi mal em todas as noites. Trabalhei mais na sala do departamento jurídico da Lusa do que na minha própria mesa. Presenciei todas as trapalhadas cometidas pelos homens da Lusa. Uma por uma. E não forma poucas. Falei mais com o Júlio Gomes, colega de profissão e de infortúnio luso, do que com a minha própria mãe naquele período, tentando achar uma saída para o clube.
Não achamos.
Mesmo que tivéssemos encontrado uma luz que não fosse a do trem vindo no sentido contrário, o fado já estava escrito: a execução sumária travestida de julgamento teve de tudo: torcida do tricolor carioca (não escrevo o nome daquele time nas minhas tribunas) na porta do tribunaleco, com faixas, com bandeiras, mas sem dignidade; voto do relator escrito na véspera devidamente guardado na gaveta, à espera do momento certo para atingir o coração de um clube que foi morto porque cometeu o crime de querer lutar contra o Negócio futebol, o business. Morreu porque quis ser grande.
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Comecei a morrer como torcedor quando o massacre de 9 a 0 foi consumado no patético e hediondo “julgamento” da citação do Pequeno Príncipe; quando vi hienas de verde e grená rindo sobre o cadáver ainda quente, como se fosse parte do seu instinto animal. Não, não é. Aquilo era uma mostra do pior que pode haver naquela gente. É esse tipo de pessoa que brada feito louca quando um pênalti legítimo é marcado contra si, mas regozija-se a cada lance ou armação ou tapetão a favor do seu time.
Eles, como tantos outros, sob outras camisas, são os mesmos que, com este comportamento deplorável, fiam as maracutaias existentes em todos os níveis sociais. O “levar um por fora”, o “quanto é que eu levo nisso”, é inerente a esse tipo de gente.
Tornei-me, então, um ser completamente isento de qualquer cor ou sentimento positivo relativo ao futebol brasileiro. Tal qual o Homem de Pedra do Trio Parada Dura (ouçam), decidi que ninguém mais pisaria em mim. Torço sim! Mas só quando o Benfica joga, quando A Portuguesa é tocada antes de cada partida da Seleção de Portugal. E contra o time da CBF.
Já a Lusa segue definhando num espiral infinito, uma queda em parafuso que não para. Foi num 8 de dezembro que o sistema achou o motivo torpe para nos matar. 8 também era a camisa que o Rei Enéas, o gênio esquecido, usava quando acordava para destroçar adversário por adversário dentro de campo. No dia 27 de dezembro de 2013, a morte do craque da camisa 8 completou 25 anos. No mesmo dia, os doutos donos da lei da ópera bufa e farsante da Rua da Ajuda deram o tiro de misericórdia.
E eu morri.
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