quarta-feira, 15 de março de 2023

PORTUGUESA - O espelho nas crises dos outros


Faltando uma rodada para o final da Série A3 do Campeonato Paulista, o Audax, que foi vice-campeão paulista em 2016, naquele que foi o cartão de visitas do Fernando Diniz como treinador, está na lanterna da competição. Depois daquele ano de graça, foi caindo, caindo, voltou da Série A3 para a A2, caiu novamente e agora está à beira de uma inédita e previsível quarta divisão do futebol paulista. Erros em cascata, todos sob as bênçãos do proprietário, Mario Teixeira, transformaram o clube de Osasco numa caricatura de si mesmo.

A Ferroviária, que estava na elite estadual desde 2016, teve uma série de “problemas” com o seu investidor e, após uma série de decisões administrativas das mais questionáveis e equivocadas, foi pra casa do chapéu – para sorte nossa – e caiu este ano. Vai jogar a Série D, mas se não subir terá que lutar para manter o calendário nacional vencendo a Copa Paulista. Só para justificar a presença neste texto, quando o "homem do dinheiro", Saul Klein, chegou a Araraquara, a torcida o recebeu com festa, imaginando que seria também um sugar daddy para o clube. A relação não chegou a durar três anos.

O São Caetano, campeão paulista em 2004, duas vezes vice-campeão brasileiro na virada do milênio e vice-campeão da Libertadores, acaba de cair para a Série A3. Sucateado, atolado em dívidas e polêmicas, não é nem sombra do Azulão que assombrou o país há pouco mais de 20 anos e está de volta à terceira divisão depois de mais de 25 anos. Klein foi o responsável pelo aporte financeiro quando ainda estava ligado a uma grande rede varejista. E não foi pouco. E não bastou.

Três clubes "com dono". Três clubes em que o boom não aconteceu por acaso, pois não faltava dinheiro praqueles lados para investir no futebol. Três exemplos de que a qualidade do (s) gestor (es) importa mais que o modelo de gestão.

A Portuguesa passou o Paulistão pendurada na tabela e na falta de dinheiro que, aliada a outros fatores fartamente tratados aqui, resultou em um elenco de qualidade questionável, para dizer o mínimo. A estrutura é precária, o futebol feminino está interrompido, o que é uma desgraça, e a única categoria de base em atividade é a Sub-20, que deveria ser a sequência de um trabalho iniciado na Sub-15, cedendo jogadores talhados dentro de uma filosofia de trabalho que atenda às necessidades do time principal.

Havia a expectativa de que tanto Sub-15 quanto Sub-17 voltassem à ativa. Como a SAF ainda não saiu do papel – ou melhor, sequer foi aprovada –, a retomada foi adiada. E isso é preocupante. 

E é preocupante porque não conseguimos sequer investimento para ter condições de formar nossos atletas, em vez de ter que ir às compras. É, ou deveria ser, o mínimo. E aí a conversão no modelo de clube-empresa passa a ser a única forma de viabilizar a existência do clube? Mesmo a apresentação para a estrutura desejada no novo modelo e os possíveis investidores, que estava prevista para abril, foi adiada. 

Abri este texto com três exemplos recentes que mostram que não é o fato de ter investimento ou proprietários ou o caralho que seja que garante coisa alguma. Nos três casos, e estive vendo de perto os três, a oferta de dinheiro atraiu gente que não deveria estar lá simplesmente porque não entende nada do riscado – ou não deveria lá por outros motivos, mas é bom parar por aqui para não criar problemas na justiça. 

Só para ficar claro: não sou contrário à conversão para a SAF, mas não pode ser feita de qualquer forma.

Não sei o que pensar, honestamente. Só espero que quem venha abrir os cordões à bolsa, além de querer fazer dinheiro com o clube, que é o objetivo de qualquer investidor, entenda e respeite prazos, processos e tenha paciência, muita paciência. 

Ou então teremos uma Ability 2.0. Alguém aqui quer isso?


Texto originalmente publicado no NETLUSA

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